Campanhas de prevenção da AIDS com sexo seguro são endossadas por religiosos que atuam em ONGs
BRASÍLIA. A pregação oficial da Igreja Católica contra o uso da CAMISINHA vem sendo desafiada por padres, freiras e leigos que atuam em pastorais e ONGs.
Sem fazer alarde, eles distribuem PRESERVATIVOS para a população vulnerável e portadores do vírus HIV. No trabalho de prevenção, elaboram um material que, até bem pouco tempo, seria impensável vincular a uma entidade ligada à Igreja. "Use CAMISINHA em toda relação sexual, seja ela vaginal, anal, ou oral.
Reduza o número de parceiros (as) sexuais", diz um texto do site da ONG AIDS: Apoio, Vida, Esperança (Aave), de Goiânia, dirigida pela freira Margaret Hosty, coordenadora da Pastoral da AIDS no Centro-Oeste.
Ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e criada em 2004, a pastoral se expandiu nos últimos anos e está presente hoje em 118 dioceses do país. O seu trabalho é acolher os doentes de AIDS, dar apoio psicológico e atuar também na prevenção. Até hoje, a Igreja formou cerca de 13 mil agentes de Pastoral da AIDS.
Tema aparece em vários panfletos da Pastoral
Tema que ainda é tabu para os católicos, o uso do PRESERVATIVO aparece em vários panfletos. A Pastoral da AIDS criou uma mensagem para ser veiculada em rádios católicas que exorta a prevenção contra o vírus HIV e, ao contrário da posição do Vaticano, que prega a fidelidade, defende o sexo seguro.
"AIDS não tem cura. Prevenir é o melhor remédio. Evite relações sexuais desprotegidas".
Um dos livretos diz que, atualmente, cresce a consciência de que não basta tratar os infectados: "É preciso chegar antes que o vírus". A Aave, de Goiânia, atende 300 famílias e atua em atividades de educação, psicologia e apoio jurídico aos doentes. A entidade oferece o PRESERVATIVO, que recebe do Ministério da Saúde.
- Não vejo contradição com os preceitos da Igreja, que sempre pregou que se deve proteger a vida. Temos que prevenir sempre.
É nosso dever, como grupo de apoio, oferecer informação correta, mas também o PRESERVATIVO - diz Margaret Hosty.
Coordenadora da ONG Bemmequer, que atua em bairros pobres na periferia de São Paulo, a missionária irlandesa Sarah Helena Regan ajuda a cuidar de soropositivos. Sua organização atende cerca de 200 portadores do HIV. Como outras entidades, a Bem-me-quer participa de mobilizações como o Dia Mundial de Luta contra a AIDS, que ocorre sempre em 1ode dezembro.
O PRESERVATIVO também faz parte do trabalho da entidade.
- Quando há eventos como esses, distribuímos CAMISINHA. Em trabalhos de prevenção em escolas, também levamos. Agora, não somos uma entidade que distribui PRESERVATIVO, mas que leva informação sobre prevenção e acolhe doentes pobres - diz Sarah.
O padre Valeriano Paitoni, do Instituto dos Missionários da Consolata, de São Paulo, coordena três casas de apoio e cuida de infectados que são filhos de mães portadores do HIV. Nas três unidades do instituto, são atendidas 28 crianças e jovens e, cinco deles já completaram 18 anos. Para ele, a prevenção é fundamental.
- A Igreja Católica diz que a verdadeira prevenção está nos valores evangélicos. Mas a postura de uma igreja ou religião, qualquer que seja, não pode prevalecer sobre o bom senso - diz Valeriano. Nem sempre o material da Pastoral da AIDS teve postura liberal em relação ao tema.
Num livreto, o poema "Quadrilha", de Carlos Drummond de Andrade - "João amava Teresa, que amava Raimundo, que amava Maria, que amava Joaquim..." - virou: "Há vinte anos a AIDS põe em risco a vida de João, que põe em risco Teresa, que põe em risco Raimundo, que põe em risco Maria, que põe em risco Joaquim.".
Católico não está alheio
Igreja resiste a campanhas do governo
Ao comentar a trabalho de padres que distribuem PRESERVATIVOS, o secretáriogeral da CNBB, dom Dimas Lara, afirmou que há certas áreas de fronteira onde, se o religioso não participar, pode pecar por omissão: - Possivelmente esses padres querem dar sua contribuição.
É um sinal de que o católico não está alheio a esse problema. Mas a solução é mais abrangente do que a distribuição de CAMISINHA.
No entanto, o avanço da atuação de religiosos na luta contra a AIDS ainda esbarra numa oposição da Igreja a políticas do Ministério da Saúde, em especial das campanhas publicitárias pelo uso da CAMISINHA.
Para o secretário-geral da CNBB, essas propagandas desestimulam a fidelidade: - O que nos preocupa nessas campanhas, como a do carnaval, não é o incentivo à prevenção. Não vejo na propaganda nenhum incentivo à fidelidade e ao respeito.
Do jeito que é feita, incentiva é a iniciação muito precoce da sexualidade nos jovens.
O coordenador-adjunto do Programa Nacional de AIDS do Ministério da Saúde, Eduardo Barbosa, disse que não só a Igreja Católica, mas adeptos de outras religiões estão envolvidos na luta contra a AIDS. Para Barbosa, a Pastoral da AIDS presta um serviço fundamental e auxilia o governo com sua ação. Ele considera um avanço que entidades ligadas à Igreja distribuam PRESERVATIVOS: - O grande diferencial é que quem recebe a informação pode, sem deixar de praticar sua religião, optar qual melhor meio de prevenção.
-- Sadessa Vieira
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