
marian pessah por mulheres rebeldes
Fotos http://www.flickr.com/photos/marianapessah/sets/72157618066532936/
primero em lengua brasilera
Após 9 dias de greve de fome em 4 pontos do estado do Rio Grande do Sul e alguns bloqueios de rodovias, o Ministério Público Federal, disfarçando com o nome de acordo, levantou a ordem de despejo do acampamento Jair da Costa, localizado no município de Nova Santa Rita e se comprometeu a assentar as famílias. Cem no prazo de um mês e as restantes, cerca de 160, antes do fim do ano.
Dois dias antes, pela primeira vez, Luciana e Leandro deram entrevistas para a TV mostrando a cara. Com esse gesto demonstravam, mais uma vez, que estavam dispostxs a tudo!
Há vários dias vinham com uma firmeza arrepiante afirmando que não sairiam. Estão acampados naquelas terras há 3 anos, vivendo sob a lona preta, quase 300 famílias que resistem e lutam pela reforma agrária, pela dignidade e pelo direito de ter um pedaço de terra onde plantar e produzir. Decidiram defender essa conquista com unhas e dentes. Ficaram entrincheiradxs, cercando todo o terreno com estacas de taquaras pontiagudas para impedir a entrada dos cavalos da brigada.
Para saber mais e ver fotos :
http://radicaldesdelaraiz.blogspot.com/2009/04/apesar-de-voce-o-mst-continua-na-luta.html
Ontem, terça, 12 de maio, estava marcada uma audiência na sede da Justiça Federal em Canoas. Xs compas já vinham preparando o terreno e ali era um dos 4 pontos onde estavam fazendo greve de fome. Cada vez que alguém entrava ou saía do prédio da Justiça Federal, era obrigada a se deparar com essa realidade, elxs estavam se convertendo em pesadelo, a mosca na sopa da justiça. Já não era através da imprensa institucional, conivente com o que o poder quer ver e mostrar para continuar no seu trono. Agora, a fome e a luta tinham rostos, bandeiras e estavam decididxs a morrer se fosse preciso, porque como diz um de seus refrãos: “prefiro morrer lutando, que morrer de fome”.
A felicidade tinha hora marcada.
Levantaram a ação de despejo! Se abraçariam horas mais tarde e dançariam nas ruas. Outrxs já punham mãos a obra e começariam a levantar o acampamento de dias de vida na calçada.
É uma vitória histórica, sem dúvida, e muito emocionante!!
Cheguei duas horas antes da audiência começar. Abraços e sorrisos, muita alegria ainda que muita tensão pairasse no ar. Fotos, conversas, chimarrão. Muito cansaço em alguns olhares, muitxs apoiadorxs do Movimento que, como eu, estavam ali demonstrando que essa é um luta para valer, para vencer. Que essa luta é de toda a sociedade.
Em seguida chegou Claudia, a advogada, era hora de subir para a audiência. Luciana propôs axs apoiadorxs para também tentarem subir, sabendo que era pouco provável que nos deixassem entrar. Isso sucedeu a apenas um metro e meio do local, uns policiais bem parrudos repetiam apenas que não, que não. Frente a tanta negativa perguntei se jornalistas podiam passar. Então viria um homem especialmente para me acompanhar, a mim! Esta sociedade adora nos dividir, cavar diferenças entre umas e outras pessoas, inventar hierarquias e títulos.
Ao sair do elevador o clima podia se cortar com faca. Muito terno e gravata, e eu tentaria convencer Gabriela, que atendia a imprensa, a me permitir tirar uma foto lá dentro. A negativa era contundente, apenas 5 pessoas entrariam, o juiz não queria mais ninguém.
Mas as pessoas querem ver, e nós queremos informar, mostrar imagens. Um pouquinho depois me deixaria passar.
No tempo da espera, quando perguntávamos ao pessoal de segurança como a coisa estava andando, diziam, “por enquanto bem”, dando a perceber que estavam preparados para quando deixasse de “estar bem”. Lógico, é seu trabalho, garantir a segurança do sistema.
Após aproximadamente uma hora e meia aparece Claudia, sai para levar uma proposta ao movimento e esclarece que não quer imprensa. Ao vê-la chegando levantam os punhos gritando: Pátria Livre, venceremos! É um momento de muita emoção.
Organizam uma reunião, desta vez sem microfone, e Claudia explica a proposta. Dois pontos que foram descartados, o terceiro não parecia tão conciliador: se levantaria a ação de despejo e as famílias seriam assentadas, tinha cara de Vitória. O único ponto discutível é o de que não poderiam entrar novas famílias no acampamento.
Rapidamente se dividiram grupos de discussão, dando direito de palavra a todo mundo. As famílias discutiam, opinavam. Outro grupo, viola na mão, cantava músicas do movimento.
Poucos minutos mais tarde, punhos esquerdos se ergueriam em uma voz: venceremos!
Claudia voltava para audiência levando as vozes multiplicadas do movimento de trabalhadorxs rurais sem terra: antes do natal, serão com terra.
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