O Coletivo Nacional de Lésbicas Negras Feministas Autônomas – CANDACES BR, tem como diretriz principal a visibilidade, letramento e empoderamento das lésbicas negras sendo destituído de preconceitos e discriminação de qualquer natureza (racismo, sexismo, lesbofobia, discriminação racial e todas as discriminações correlatas). Compondo-se de um espaço para o exercício da solidariedade e construção dos conceitos de promoção de Cidadania e Direitos das Lésbicas Negras, no desenvolvimento da consciência crítica visando autonomia e transformação do indivíduo para que este se torne agente transformador em nossa sociedade.

O Coletivo Candaces tem como finalidade a luta pelo estabelecimento de uma política eficiente de saúde publica ligada a feminização da AIDS, através do Plano Integrado de Enfrentamento à Feminização da Epidemia da AIDS e outras DST, bem como desenvolver projetos voltados para a promoção da cultura, educação ambiental, comunicação, arte e gênero.

O Candaces também traz a preocupação e o recorte das pessoas com deficiência, nesse caso em específico as lésbicas e bissexuais, com algum tipo de deficiência. Para a garantia das especificidades no contexto geral das Políticas Públicas, no reconhecimento enquanto sujeitos políticos da história. Não são privilégios, mas sim uma atenção diferenciada dentro da política de saúde nacional, respeitando sempre as condições e limitações das pessoas com deficiência. Nesse sentido torna-se de suma importância que o segmento das pessoas com deficiência seja consultado na elaboração de novas propostas de Políticas Públicas visando sempre à acessibilidade e a inclusão social para todos.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Viva o dia 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha

Mulher Negra Brasileira: resistência, coragem e luta pelo trabalho em todas categorias! Acesso à Educação até a Universidade! Salário igual para trabalho igual!

O Quilombo de Palmares (1630-1694) teve como uma de suas fundadoras a negra Aqualtune. Filha do Rei do Congo na África, comandou um exército de 10 mil guerreiros para defender o reino. Vendida como escrava fugiu e fundou Palmares com outros companheiros. Zumbi era seu neto. Dandara outra das guerreiras de Palmares, após a derrota, preferiu suicidar-se a voltar a ser escrava. Filipa de Aranha liderou um Quilombo no Pará. Teresa de Quariterê liderou por duas décadas o Quilombo de Quariterê em Minas Gerais, Zerafina comandou o levante do Quilombo do Urubu (Bahia). Luísa Mahin, negra livre durante o regime escravista, participou da Revolta dos Malês.
Toda a luta anti-escravista foi marcada pela presença da mulher negra. Lideranças de quilombos ou apenas mães, irmãs, tias, avós, companheiras de grandes líderes ou não transmitiram destemor para as gerações que lutaram por quase 400 anos para festejar a Abolição nas ruas de todo o Brasil no dia 13 de maio. Gerações que foram cada vez mais se misturando e criando esta raça, graça e energia brasileira para a luta e para as alegres comemorações que as vitórias trazem.
Nos anos mais próximos da grande vitória uma afro-descendente, filha de mulata e branco militar, Chiquinha Gonzaga, foi destaque na fundação e organização das atividades da Confederação Abolicionista. Fundada em 1883 por José do Patrocínio, André Rebouças e outros descendentes, a Confederação uniu a força de todos os homens e mulheres, negros, mulatos, brancos sem qualquer descendência negra; republicanos ou monarquistas e, acima de tudo, simplesmente abolicionistas para colocar abaixo a escravidão. Esta vitória histórica abriu espaço para o Brasil da Revolução de 1930 comandada por Getulio, na qual começamos a fincar em nosso solo, a estrutura para a industrialização e soberania que, ainda hoje, os oligopólios financeiros e industriais, representados por desgovernos como o de BUSH, dos EUA, tentam impedir. A vocação destes parasitas de hoje é a mesma dos colonialistas e escravistas de ontem: sugar a força de trabalho dos seres humanos e as riquezas dos países.
Chiquinha, primeira compositora e maestrina brasileira, vendia suas músicas de porta em porta, criava seus cinco filhos e doava os recursos para a alforria de escravos. Uma de suas mais belas músicas"Caramuru" contribuiu para libertar José da Flauta que considerava um dos melhores instrumentistas do Rio de Janeiro. Chiquinha abolicionista compôs o "Hino à Redentora", em homenagem á Princesa Isabel reconhecendo o papel desta outra mulher (branca e monarquista) na Abolição. Chiquinha republicana compôs "Faceira", dedicada a outro republicano, Lopes Trovão. Alguns anos mais tarde, sua marcha carnavalesca "Ô Abre Alas", também a primeira do Brasil, parece anunciar que persistiremos abrindo e criando os caminhos para libertar o Brasil dos grilhões que negam ao nosso país seu direito a ser uma Nação desenvolvida produzindo na tecnologia, na industria e na agricultura para o beneficio dos seus quase 190 milhões de filhos e filhas e ainda sendo solidário com os demais povos que batalham para transformar a mesma realidade de dependência econômica.
Nossa identidade brasileira é povoada da miscegenação de corpo, alma e luta.
Nesta formação as mulheres negras cumpriram e cumprem papel de importância inegável. Os sambas de Tia Ciata, os Tambores de Crioula e de Mina, as Rainhas das Congadas, as Rezadeiras, as Parteiras, formam um universo de reunião, união, resistência e tradição que globalização nenhuma consegue apagar.
As mulheres negras brasileiras são cerca de 25% de nossa população e estão cada vez mais organizadas, somando-se às demais mulheres e homens de nossa luta, para derrubar os índices de analfabetismo, semi-analfabetismo, baixa escolaridade, baixa profissionalização e salários que as atingem com maior brutalidade.
Não faz muito tempo. Em 1980, apenas 1.757 mulheres negras ganhavam mais de 20 salários mínimos em 4 milhões de trabalhadoras negras. Segundo dados da UNIFEM - Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher - o salário das brasileiras é em média 30% inferior ao do homem e chega a ser 61% se for uma trabalhadora negra. Nas 500 maiores empresas brasileiras, 58% não possuem mulheres em cargos de direção e só 9% ocupam cargos executivos. Apenas 0,1% desses cargos são ocupados por mulheres negras.
As mulheres negras são 70% das trabalhadoras domésticas, uma das profissões que teve seu direito a carteira assinada, conquistado mais tardiamente e infelizmente só é reconhecido para apenas 25% da categoria. Nossa luta é pelos equipamentos sociais públicos: lavanderias, restaurantes, creches que possam proporcionar às mulheres o direito ao trabalho na produção industrial, com melhores salários e liberdade do isolamento doméstico e da servidão que ainda permeia esta atividade.
Nos últimos 5 anos, crescemos as conquistas de políticas para as mulheres e construímos ações voltadas a enfrentar o analfabetismo. A hipertensão, diabetes, anemia falciforme que atinge mais as mulheres negras estão tendo atenção especial no pré-natal. Os índices de mortalidade materna foram estacionados e isto já é um grande avanço. A mortalidade infantil está sendo derrubada e o índice de cobertura de exames no pré-natal passou de 22% em 2000 para 76% em 2005. Mães e crianças negras e pardas também estão recebendo maior atenção nas ações de saúde.
Conquistas como a titularidade da terra e créditos para as agricultoras alcançaram milhares de companheiras negras e fortalecem a luta para que em um dia não muito distante possamos ter alegria total nas ruas ao comemorarmos a superação das desigualdades que ainda enfrentamos. A escravidão deixou heranças malditas e a Nação brasileira está disposta a reconhecê-las e transformá-las. Este é o desejo avassalador da maioria. Não estamos mais dispostos a ser o maior país negro fora da África, com 45,33% de nossa população negra ocupando apenas 1% dos bancos das universidades. As cotas nas universidades tem derrubado os argumentos dos resistentes que se iludem com a conversa de que a "oportunidade é igual para todos e só não ocupa quem não quer ou não se esforça". Isto é lenga-lenga deste sistema econômico baseado na exploração de muitos por poucos. A execução da Lei 10.639/03 fortalecerá a auto-estima não só dos afro-brasileiros mas de todos nós.
Viva as mulheres negras e sua garra e graça! Viva o IV Congresso do CNAB!
Gláucia Morelli
Presidente
Confederação das Mulheres do BrasilConselheira CNDM

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